Canalha com Sono, que transtorno

      Eu so parceiro! Essa frase em tom de afirmação mediante um convite de alguns canalhas para sair em plena quinta-feira veio recheada de boas causas e, digamos assim, algumas consequências. A primeira, e sem dúvida nenhuma a mais nobre de todas elas, é a forte preguiça que domina este que vos escreve neste momento. Acontece que aquela que seria apenas uma passadota por uma bodega da cidade para presenciar um evento sertanejo acabou virando uma noitada.
     Baldinhos de cerveja para cá, golejadas e golejadas para lá, belas damas pra cima e pra baixo passeando pelo salão, um bando de canalhas reunidos na parceria Full Power Extra Super e pronto! Tudo se encaminhou perfeitamente bem até que o miserável do canalha levanta seu braço esquerdo até a altura do "zóio" e observa as horas no Rolex Segunda Linha que reluzia: quatro horas da manhã. Foi nesse momento que os sinos da consciência começaram a badalar na mente do canalha...



      E esses sinos não são uma bença! Ecooam pela mente e destróem os surtos de alegria do canalha: Dóimmmmm... tu tá bêbado! Dóimmmm... amanhã é dia de São Pega.... Dóimmmm... tem que pagar a poha da conta.... Dóimmmm.... em casa não tem nada pra comer.... Dóimmmmm.. amanhã tu vai levantar com a cabeça que parece um balão.... Dóimmmmm.... Vai trabalhar com a boca que mais parece um deserto.... Dóimmm.... ahusdhasudhuasdhua, se fodeu palhaço! Porque não fico em cada vendo filme?". E mais "N" badaladas pagando com a tua cara, literalmente.
     Mas o bom canalha, todo grandão, galo cinza prateado master da espora dourada e da crista laranjada não quer nem saber, se afunda no trago e ainda diz pro canalha parceiro: "Não muda nada acordar cedo pra trabalhar amanhã, que se lasque, amanhã a gente dá um jeito". E continua sua rotina de palhaçada ao longo da noite. Sim, palhaçada mesmo, porque depois que o grau alcóolico atinge o Plus, que fase. É só garrancho!
     Noite finalizada, sai da bodega se matando de dar risada com o parceiro, corre o risco de conhecer belas donzelas na fila ou na saída, e só alegria... pelo menos até o exato momento em que deixa o último carona em casa. Após isso a consciência, essa canalha implacável ataca novamente: "E aí, valeu a pena? E amanhã, pensa que teu corpo é um paiaço pra aguenta o tirão? Só pra se liga amanhã tu me paga, tu tá fudido!". Alguns segundos depois: "e daí meu atleta, quanto foi o prejuízo da noite? E além disso não pego ninguém? Que fase hein...". E sem argumentos para esse diálogo interno o canalha vai pra casa recolhido a sua insignificância.
     Chega em casa, uma golejada de água com o pensamento: "com isso neutralizo o efeito do álcool" (eita pensamento de bêbado burro) e ruma para a cama. Esta que por sua vez chega a irradiar o quarto com sua luz. Ao som de uma música barroca o canalha dorme feito criança pequena... Um minuto depois a música barroca se torna um barulho infernal - o despertador implacável toca. Sim, parece que as duas ou três horas que você dormiu não passaram de alguns segundos. Nesse momento, sem saber direito onde está, quem você é, o que está acontecendo, você se obriga a retomar a posição vertical e... pau na gaita. Mais um dia em que, conforme alertou a consciência, você se vê obrigado a pagar com juros a multa por uma noite mal dormida, regada a trago e confusão. O legal disso é estar se dirigindo para a o trabalho e cruzar com o canalha parceiro da noite anterior: a pézito, carregando um guarda-chuva e a cara bem pior que a tua. Isso não tem preço!
     Mas... veja bem, hoje é sexta feira canalhada! Apesar do dia estar se arrastando, o nobre canalha estufa o peito e diz: "Meuuuuu que sonooooooo!". Fora isso, engana o estômago com umas colherada de gororoba pra ganhar uns vinte minutos de sono na hora do almoço, dá mais um pega a tarde, recarrega as batiria na entrada da noite e... adivinhem? Está pronto pra outra!