Bom, pra começo de história esse post deveria ter sido publicado na sexta, véspera do dia dos namorados. Mas como o tempo ruge e a sapucaí é grande, acabamos postergando o momento. De posse de uma manhã um tanto quanto ociosa (obrigado por ter copa do mundo e meus superiores gostarem de futebol), sobrou um tempo para que eu escreva esse conto de fadas...
OBS: Pra não deixar a classe dos canalhas bêbados sem sentimento na mão, acredito que essa figura vem a calhar. Vamos a estória!
Era uma vez, em um bairro muito, mas muito distante, um bravo trabalhador de frigorífico que com muito esforço saiu de Nonoai e veio para a cidade grande ganhar a vida com seu cavalo branco (na verdade, uma CG 83 tanque redondo). Vantoir era o típico guerreiro. Trabalhava por empreitada na lavoura, e cansado de tanto lidar com a terra, resolveu se fichar na Sadia, visto que trabalhar em "firma grande" tem muito mais "benifícios".
Claudilene por sua vez era uma moça prendada, desde cedo acostumada com a lida doméstica. Essa virtude lhe abriu muitas portas. Sim, trabalhava de diarista em quatro residências diferentes. Além disso, tinha o dom de chamar a atenção. Vaidade pouca era bobagem para ela. Gastava mais de vinte reais a cada visita ao lojão do real: avanço, toque de amor, blush, batom, unhas postiças... que bença essas boutiques populares. Graças a isso sua beleza chamava atenção de longe (de perto nem tanto).
Tanto que Vantoir conheceu Claudilene em um dos bailes da vida graças à vaidade da donzela. Eram passadas das quatro da manhã, a banda recolhia as "apareiage", os bêbados chutavam latinhas, e lá estava ela, de braços cruzados em frente ao palco, frustrada por não ter conseguido o autógrafo do baixista (que durante a semana fazia bicos de servente de pedreiro - estilo sapo durante a semana e príncipe no bailão). Vantoir se embugava de pastel para tentar curar o balaço. Sem ter pego nada a noite toda, avistou a princesa, e sem pestanejar ofereceu seu capacete reserva para levar a jovem embora. Um friu de fazer cusco dobrar o lombo, e lá foram eles 20 Km de sereno madrugada adentro.
Juntos a oito meses, após bailes regados de paixão e muitos garrafões de vinho com Quipo-Cola, chegou a hora de comemorarem o dia dos namorados mais perfeito de todos. Vantoir mais que esperto forçou um erro e mutilou o próprio dedo enquanto dessossava um pernil. Calculou meio mal. O que era pra ser um pequeno corte, virou um "taio" de quase o dedo inteiro. Mas enfim, graças ao atestado pegou três dias de folga. Claudilene pediu uma folguinha pra patroa em troca do desconto nos passe de lotação. Ambos teriam o dia dos namorados livre para amar!
Vantoir ganhou uns pila no truco e pode comprar um ursinho do Paraguai para dar à Claudilene. Claudilene fez um consórcio da Avon e pode comprar uma "cheirosa" fragrância para Vantoir. Mas vantoir foi mais além: planejou um dia de princesa para Claudilene. Sete da manhã já havia tomado banho e trocado o curativo do dedo. As nove acabara de limpar sua CG, deixando a mesma que era um brinco. Sem perceber que estava novamente suado, foi buscar Claudilene para "ir pra cidade ver as vitrines". Quando ela sentou na garupa da possante, pensou: "hummm, que cheiro de asa do meu amor, acertei no meu presente".
Após suar mais um pouco dando seis voltas avenida acima/abaixo, resolveram fazer um almoço romântico: um dogão e um crepes de chocolate na praça, dividindo uma coca lata. Feliz e de barriga cheia, Claudilene voltou para a casa toda contente (com mais alguns carnês para pagar a perder de vista). Nem se encomodou com o fato de Vantoir ir até a boedega jugar sinuca e comer ovinho de codorna com os chegado da firma. Mas Vantoir não é homem de se jogar fora, a noite estava planejada...
Oito em ponto, uma hora e meia após o combinado, passou pegar Claudilene, que já roia suas unhas postiças. Com a CG cortando giro rumo a cidade, chegaram até um famoso restaurante: rodízio de pizza a R$6,99, muita, mas muita gente, atendimento de primeira. Afinal, Vantoir era VIP e tinha reservado uma mesa. Dez da noite conseguiram sentar para comer. E comeram, como comeram. Parecia a última refeição da vida. Ou então estavam ansiosos pelo que estava por vir: baile dos namorados no interior de Ronda Alta. Duas horas de CG no friu para chegar ao local e descobrir que o evento foi cancelado graças a 8 facadas desferidas por Vladimir contra Aritã, o amante que foi pego em flagrante na casa da Lurdes, segunda prima do Vantoir.
Mais duas horas de CG para voltar para o lar, mas Vantoir ainda tinha planos. Lógico, levar a gata para um local mais requintado: R$16,00 + RS8,00 a hora subsequente. Perfeito para a ocasião. Três da manhã, provavelmente mais de N pessoas teriam utilizando aquele espaço, mas que nada, o que importa é o "morance". Depois de duas horas de muito amor, na saída Vantoir teve que penhorar a identidade, pois lembrou que teve que emprestar cinquenta pila para Lurdes pegar o Táxi até a casa de sua irmã para fugir do Vladimir que prometera lhe matar.
Cinco da manhã passada, Vantoir deixa sua amada em frente ao lar e dá um longo e apaixonado beijo de adeus. Na verdade não tão longo, pois as seis ele precisava pegar o turno da firma, visto que o atestado havia vencido. O sonho havia acabado. O conto de fadas também. Hora de voltar ao trabalho e continuar na lida. Mas o amor por Claudilene perduraria. Eles viveram felizes para sempre!
quinta-feira, 17 de junho de 2010
Conto de Fadas Canalha: O Dia Dos Namorados Perfeito
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2 comentários:
Zé
sugestão..
-conheça um produtor de filmes de hollywood
-produza um seriado ou filme com essas histórias...vejo potencial nisso!
:)
Hey, concordo com o comentário anterior, você tem talento garoto! Ri do começo ao fim, uma típica descrição da maioria dos cidadãos da "región", com direito a detalhes! Show...
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