quarta-feira, 18 de novembro de 2009

O Artilheiro

     Algum tempo sem postar no blog, levado por essa vida que nos destina uma enxurrada de compromissos, mas vamos lá, não ta morto quem peleia. O fato é que ontem, lá pela quadragésima quinta curva que a Van que trazia os professores de São Lourenço pra Chapecó fez, na calada da madruga, já quando meu estômago fazia um nó, me veio uma bela imagem na cabeça.

     Nesse momento também lembrei de uma frase corriqueira que ouço por aí: “que saudade da minha infância, como passou ligeiro”. O fato meus nobres leitores, é que lembrei de um domingo de sol, por volta das duas da tarde. Na minha vida de canalhices, a única lembrança que vem à mente atualmente sobre essa fatia do tempo, é eu acordando bêbado, com uma terrível ressaca, e sem lembrar direito tudo o que aconteceu na noitada. Mas essa lembrança foi diferente, e confesso que me ajudou a melhorar do estômago...


     Eu lembrei de um domingo no qual todo empolgado, eu tentava alcançar a bola que estava bem no canto oposto debaixo da cama. Com sofrimento e pressa, chutei ela contra a parede e esta voltou até meus braços. Rapidamente calcei o chinelo e uma roupa que a mãe considerava “velha”, mas que era meu manto sagrado futebolístico, e às pressas desci até o campinho de futebol onde meus amigos esperavam enfurecidos pelo “dono da bola”.

     Rotineiramente olho para aquele campinho. Hoje não passa de um fundo de terreno de, no máximo, 30 metros quadrados, no máximo. Mas na época era uma faixa de terra que alegrou grande parte da minha infância. Traves mal pregadas, árvores com espinho próximas, algumas pedras, uma valeta a céu aberto. Todo o ambiente que cercava o templo futebolístico da piazada engrandecia o espetáculo. O melhor de tudo era a vizinha dos fundos. Na época uma famosa casa noturna, com cercas enormes. A cada pulo para ir buscar a bola, um desafio, uma guerra silenciosa travada entre os jogadores e a dona da zona. O infeliz que era pego buscando a bola (e eventualmente roubando frutas, ou mesmo espiando as putas), ou se estrepava na cerca, ou saia do território tomando chineladas da proprietária.

     Os jogos eram sensacionais. Duelos que por vezes acabavam na escuridão, com placares superiores a cem gols por time. E não era a escuridão que decretava o final, mas sim as nossas mães aos berros. Nunca esqueço dos donos do campinho: Ariel, Arinei, e Airton (que bom gosto dos pais hein?). Mas como para crianças sempre existe uma forma de melhorar isso, eram o Nei, o Ito e o, bem, o Ariel, esse não tinha como apelidar. Também não esqueço da minha mão gritando: “Zéééééé, ta na hora de vir me ajudar a limpar o mercado”. Não esqueço também as tardes chuvosas, onde o banhado alagava o campo por completo, mas nem por isso fazia os fanáticos atletas desistirem. Ou então a vez que ao pular, derrubamos a cerca... operação amarrar com fio de varal, que sofrimento e empenho.

     Na verdade nunca esqueço de muitas coisas. O que não consigo lembrar, é como aqueles jogos foram acabando... ah sim, um começou a estudar à noite, outro a namorar, a trabalhar, aquelas coisas que a gente continua a fazer, muitas delas por obrigação e para ser alguém. Hoje não sou ninguém, mas naquela época eu era o goleador do campinho. Parece que foi de uma hora pra outra, mas com certeza o encanto vai ficar eternamente (percebam que o post está mais light que os anteriores, mas tudo bem, o canalha está bem vivo, e feliz).

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